Inteligência Artificial e Educação

DELGADO, C. A. D. M. ; GOMES, C. E. O. ; WAINER, J. ; BITTENCOURT, L. F. ; FERRO, M. ; KUNST, R. ; AZEVEDO, R. ; SIQUEIRA, S. W. M. ; SOARES, S. . Inteligência Artificial e Educação. In: Claudia Lage Rebello da Motta; Flávia Maria Santoro; Leila Ribeiro; Rodrigo Duran; Sean Wolfgand Matsui Siqueira; Simone André da Costa Cavalheiro; Taciana Pontual Falcão. (Org.). Grandes Desafios da Educação em Computação no Brasil 2025-2035. 1ed.Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2025, v. 1, p. 55-73. doi: https://doi.org/10.5753/sbc.17542.1


Inteligência Artificial e Educação

Autores

Carla Amor Divino Moreira Delgado (UFRJ, RJ)
Charles Everton Oliveira Gomes (UFPE, PE)
Jacques Wainer (UNICAMP, SP)
Luiz Fernando Bittencourt (UNICAMP, SP)
Mariza Ferro (UFF, RJ)
Rafael Kunst (UNISINOS, RS)
Rodolfo Azevedo (UNICAMP, SP)
Sean Wolfgand Matsui Siqueira (UNIRIO, RJ)
Sergio Soares (UFPE, PE)

Resumo

A Inteligência Artificial atua como agente nos ecossistemas em que está inserida, produzindo transformações a partir de suas lógicas e efeitos explícitos e implícitos. No contexto de Educação em Computação, isso exige um repensar contínuo dos objetivos, conteúdos, práticas, métodos e dos próprios ecossistemas educacionais. Nesse contexto, é fundamental compreender que a Inteligência Artificial, especialmente em suas formas generativas e adaptativas, não é apenas operada por humanos, mas atua como um agente técnico-social nos processos educacionais, configurando mediações que afetam diretamente o ensino e a aprendizagem. A noção de agência de não-humanos, formulada inicialmente por Latour [8] e desenvolvida em contextos organizacionais por Orlikowski [9], sugere que artefatos tecnológicos, como algoritmos e sistemas inteligentes, participam da constituição das ações humanas, configurando possibilidades, restringindo alternativas e influenciando decisões. Floridi [10] propõe que a agência informacional se manifesta pela capacidade de um sistema produzir mudanças relevantes no mundo, independentemente de possuir consciência ou intenção. Na Educação, Schmager, Pappas e Vassilakopoulou [6] destacam a emergência de formas de agência epistêmica por parte da IA, à medida que esses sistemas mediam o acesso ao conhecimento, a orientação de percursos de aprendizagem e a avaliação de desempenho. Essa compreensão está alinhada à perspectiva de Human-Centered Artificial Intelligence [11, 6], que concebe a agência como relacional, distribuída e situada em ecossistemas sociotécnicos. Nessa visão, a IA não age isoladamente, mas em rede com humanos, normas, dados, interfaces e instituições, coconstituindo experiências educacionais, formas de conhecimento e relações de poder. Longe de rejeitar os potenciais inovadores da IA, este Grande Desafio busca qualificá-los com base em uma compreensão aprofundada de suas implicações formativas, epistemológicas e sociais. Na Educação em Computação, essas implicações assumem uma densidade particular: a área não apenas ensina sobre algoritmos e sistemas, mas forma sujeitos que projetam, desenvolvem e governam as próprias tecnologias digitais. Isso confere à Educação em Computação um papel estratégico duplo, como espaço de experimentação técnica e como arena de disputas epistêmicas, éticas e sociopolíticas, exigindo que o ensino na área não se limite a preparar usuários de IA, mas também forme agentes capazes de intervir criticamente em sua concepção e aplicação.Para lidar com esses desafios, é necessário compreender o contexto atual em que essas transformações já estão em curso, analisando como a IA vem sendo incorporada à Educação em Computação nos diferentes níveis e práticas.

 

doi: 10.5753/sbc.17542.1